O poder de uma técnica vivencial em treinamentos

Quem nunca participou de uma técnica vivencial em grupo e demonstrou algum sinal de desconforto ou até mesmo de resistência?
Fique tranquilo, pois você não está sozinho. É normal que isso aconteça por diversos aspectos, como por exemplo:
→ a falta de alinhamento da técnica aplicada com os objetivos do treinamento/curso;
→ o facilitador não conhece seu público alvo;
→ desinteresse do espectador pela atividade ou até mesmo pelo treinamento/curso;
→ falta de preparação e construção de uma atmosfera propícia a aplicação da técnica;
→ não deixar claro aos participantes a metodologia adotada e até mesmo não elaborar um "contrato" para que todos se façam presentes de CORPO e ALMA, além do engajamento durante a aplicação da técnica, entre outros motivos que poderia citar aqui.
Lembro muito bem um caso que aconteceu comigo quando ministrava aulas em uma faculdade de tecnologia em Florianópolis/SC. A disciplina se chamava "Relações Interpessoais" e tinha como principal objetivo desenvolver nos alunos, que possuíam uma formação altamente técnica, competências de comunicação e relacionamento, tão importantes no mundo corporativo.
Então não pensei duas vezes, estava certo que deveria aplicar jogos e técnicas vivenciais para trabalhar esses aspectos comportamentais. E logo no primeiro dia de aula já comecei com uma vivência que mexeu bastante com a turma, mas que não gerou os resultados que esperava. Além disso, percebi muita resistência por parte dos alunos e que me fez pensar se a estratégia adotada estava correta ou se algo precisava ser mudado.
Após refletir sobre a situação e também conversar com alguns alunos cheguei em algumas conclusões:
  1. Eu não conhecia de fato meu público. É claro que quando você é convidado para ministrar uma disciplina o coordenador repassa todas as informações necessárias e o perfil da turma, mas infelizmente isso não foi suficiente.
  2. Não conhecendo o público eu jamais poderia "pressupor" que os alunos estivessem prontos para a aplicação de uma técnica vivencial.
  3. Apesar do retorno negativo por parte dos alunos sobre a metodologia adotada na disciplina, precisava manter algumas atividades consideradas essenciais para trabalhar as competências comportamentais. Então a solução encontrada foi criar um plano de aula cooperativo que atendesse a todos os envolvidos.
  4. Ouvir, ouvir, conversar e negociar.
E foi isso que fizemos, criamos um plano de aula adequado ao perfil dos alunos e adaptamos as técnicas e vivências para que todos se sentissem parte do processo e que ao final pudéssemos desenvolver as competências comportamentais com foco no relacionamento interpessoal.
Outra experiência interessante que vivenciei sobre RESISTÊNCIA e até mesmo um PREconceito sobre a aplicação dessas técnicas ocorreu em um trabalho de consultoria que desenvolvi na área de planejamento estratégico.
Durante o período em que atuei como consultor de empresas sempre "rolava" algumas brincadeiras e até mesmo "piadinhas" por parte de alguns consultores sobre a aplicação dessas técnicas durante o processo de consultoria e principalmente nos treinamentos. Os consultores da área comportamental ou no meu caso que não atuava especificamente nessa especialidade, mas possuía muita afinidade e as aplicava em meus projetos, acabávamos tendo dificuldades de mostrar o verdadeiro VALOR de uma boa técnica vivencial.
Em um dos meus trabalhos pelo Brasil tive a oportunidade de trabalhar com uma equipe que tinha "pavor" das palavras DINÂMICAS e VIVÊNCIAS. Existia um preconceito formado a respeito dessas técnicas e eu estava alí para talvez fazer alguma diferença e tentar mudar essa visão, que no meu ponto de vista estava totalmente equivocada.
Estávamos executando um projeto de planejamento estratégico e chegamos na etapa do desdobramentos dos projetos. Então precisávamos formar os profissionais (altamente técnicos e sem experiência em gestão de projetos) para construir e gerenciar os projetos que estariam atrelados à estratégia da organização.
E agora...como criar um treinamento sobre gestão de projetos que motive os profissionais a de fato se envolverem com esse novo "ambiente"? Após algumas noites pensando no que fazer tive a ideia de aplicar uma técnica vivencial que exemplificasse na prática como se faz a gestão de um projeto. Foi aí que sugeri uma técnica chamada "Torre de Palitos".
Até aí tudo bem, pois pra mim estava tudo certo de que essa técnica teria bons resultados. Mas ainda precisava convencer a equipe e principalmente a gerente da consultoria de que a técnica era adequada e alinhada aos objetivos do treinamento. Ufa...depois de conversarmos sobre o treinamento tive a sensação de que consegui passar a ideia da técnica.
A técnica foi aplicada bem no início do treinamento para que os participantes pudessem, ao longo da explicação técnica do que é um projeto e suas etapas, lembrar da realização da Torre e associar com as informações que estavam sendo compartilhadas. E o treinamento foi um SUCESSO. E o mais interessante de tudo é que durante o treinamento os próprios alunos reforçaram com os exemplos da atividade realizada.
Lembro que a técnica foi tão bem recebida e assimilada pelos participantes que nas reuniões posteriores ao treinamento eles sempre traziam os exemplos da Torre e isso me deixava super feliz e orgulhoso, pois meus colegas também reconheceram o poder da técnica vivencial. E o melhor de tudo foi receber o feedback da gerente da consultoria e dos colegas de que a aplicação da técnica foi essencial para o resultado do treinamento (Esse momento não tem preço!!!).
É claro que precisamos analisar cada contexto individualmente e alinhar os objetivos esperados com a aplicação da técnica às expectativas dos participantes e de todas as partes interessadas. Uma técnica vivencial que foi aplicada com sucesso para um grupo pode ser que não tenha o mesmo resultado para outro grupo. Portanto, tenha bastante cuidado na hora de selecionar a técnica, se possível discuta com seus pares para ter outras opiniões.
Gostaria de destacar que a aplicação de uma técnica vivencial requer do facilitador muita preparação, domínio da atividade e conhecimento do perfil do público. E para que a aprendizagem aconteça destaco algumas etapas que devem ser consideradas:
  1. Aplicação da vivência. Para isso é importante preparar todos os materiais necessários e fazer algumas simulações antes de aplicá-la. É importante que você esteja seguro com a atividade no momento da moderação.
  2. Fase do grupo relatar as sensações vivenciadas. Este é o momento de ouvir os participantes. Deixe-os à vontade para compartilhar suas SENSAÇÕES e EMOÇÕES.
  3. O momento do processamento, as conclusões obtidas. Depois do compartilhamento das sensaçòes vivenciadas pelos participantes chegou o momento de fazermos algumas conclusões. Nesta etapa o moderador precisa estar preparado para fazer algumas perguntas chaves para ajudar os participantes a elaborarem as conclusões da vivência experimentada.
  4. Fazer generalizações com o cotidiano (semelhanças e diferenças). Com as conclusões obtidas pelo grupo é possível nesta fase fazer comparações e generalizações com o cotidiano. Tenha em mãos exemplos para ajudar o grupo.
  5. E por fim colocar em prática de acordo com a realidade da organização. E agora, o que podemos fazer para mudar nossas atividades, processos e organização. Quais as lições aprendidas e possíveis de colocar em prática. Se possível tracem um plano de ação, principalmente quando se tratar de treinamentos para um grupo de pessoas da mesma organização.
E agora, acreditam no PODER de uma técnica vivencial? Eu definitivamente ACREDITO e sempre que possível a utilizo com o intuito de TRANSFORMAR. Diria que uma dinâmica ou técnica é mais do que uma vivência, mas sim uma TransformaAção.
Se tiverem alguma sugestão ou dúvida sobre o processo de aplicação de uma técnica vivencial estarei aqui para ajudá-los.
Um abraço,
Diego.

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